A Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Osasco (AEAO) e a Associação Comercial e Empresarial de Osasco (ACEO), promoveram no final do ano passado, o Concurso de Projetos de Arquitetura – Revitalização do Calçadão de Osasco, situado na Rua Antonio Agu.
O concurso de âmbito nacional obteve 138 inscritos do Brasil todo, com 47 projetos entregues e analisados pela Comissão Julgadora representada por Roberto Narguisian, Rafael Paes, arq. Daniel Sanches. eng. Leandro Fogaça, eng. Robson Henrique Brozeghini, Paulo Bertoni Sérgio Fiorita, emp. Luciano Camandoni, Sérgio Alves de Azevedo e arq. Tatiana Marin.
As vencedoras do concurso foram Letícia Juliana Pazian e Marina Vasarini Lopes, de São Caetano do Sul, com um projeto que inclui a cobertura do calçadão, uma praça defronte ao shopping, espaços destinados ao comércio popular nas laterais do shopping e mudanças no tráfego de veículos e transporte coletivo.
Confira o projeto da Revitalização do Calçadão de Osasco detalhado abaixo
Inaugurado na década de 80 para impulsionar o comércio, dar mais segurança aos visitantes e diminuir a poluição local, o calçadão da Rua Antônio Agú tornou -se o segundo maior centro de compras da região metropolitana de São Paulo. Hoje, quase 35 anos depois, a necessária reforma traz oportunidades para modernizar a região e solucionar antigos problemas, incentivando ainda mais seu desenvolvimento como eixo comercial.
- Cobertura modular híbrida: a estrutura modular de alumínio
com 3 tipos de fechamento trará proteção contra chuva e sol
excessivo, medidas energéticas sustentáveis e controle de
ventilação. - Piso modular drenante: 3 hierarquias de piso trarão identidade
e organização dos fluxos - Sistema de controle de enchentes: conjunto de cisternas e
módulos de drenagem regularão a vazão de água em picos de
chuva e serão utilizados para regar os jardins em períodos de
seca. - Antônio Agú como corredor exclusivo de ônibus: ao mesmo
tempo que aumentará o fluxo de ônibus e de pedestres, o
redirecionamento do tráfico de automóveis propõe uma parcial
expansão do calçadão por toda a rua.
Seja por falta de manutenção, condições climáticas regionais ou restrições espaciais, o calçadão possui hoje diversos problemas que podem ser mitigados com um bom desenho urbano. Em pesquisas e conversas com comerciantes e frequentadores, identificamos que enchentes são comuns quase todos os verões, comprometendo as vendas, os produtos e mesmo a saúde dos usuários da rua e da estação de trem. A falta de abrigo em momentos de chuva também é um dificultador das vendas. Em direção oposta, os frequentadores também sofrem com a ilha de calor, formada pelo desenho árido e pouco sombreamento. As palmeiras hoje existentes trazem mais aconchego e identidade ao local, entretanto, os cocos e larvas dos coqueiros representam um perigo para os pedestres e para os que estão sentados comendo cachorro quente.
A quantidade de bancos e áreas de estar também não são suficientes e alguns estão quebrados, mostrando a necessidade de pensar uma nova família de mobiliário. Os camelôs posicionados ao longo do calçadão ocupam um importante espaço de circulação, dificultando o fluxo de pedestres.
Por fim, áreas adjacentes, como as ruas laterais do shopping, são subutilizadas e pouco iluminadas, representando um risco aos usuários após o entardecer.
1 – O Calçadão
Foco central do projeto, toda a extensão do calçadão será coberta por uma estrutura leve, que pode ser instalada sem a perturbação das fachadas e palmeiras existentes. Propomos então uma estrutura de alumínio com cobertura composta de módulos triangulares inclinados 10º que podem variar entre 3 materiais e funções, como explicados nos esquemas abaixo.
A paginação do piso em hexágonos é um espelhamento simplificado da cobertura no chão, fazendo um jogo de formas e brincando com as sombras dos módulos metálicos. Fabricados em concreto drenante, o piso possui alta resistência ao mesmo tempo que garante a sustentabilidade do projeto.
Combinado com uma família de mobiliário urbano também derivada da forma sextavada, o novo design trará maior identidade e ares modernos ao centro comercial.
O calçadão também é conhecido pelos famosos cachorro quentes, símbolo de Osasco. Todos os dias, visitantes e trabalhadores da região se
revezam nos bancos colocados pelas “tias do cachorro quente” para almoçar ou fazer um lanche no meio da tarde. Por esse motivo, as barracas terão seu espaço abaixo da cobertura, entre as palmeiras, ficando assim protegidas de intempéries e da queda de cocos. Os clientes, ao mesmo tempo, podem usufruir dos bancos para comer o lanche. Os camelôs hoje presentes na área terão espaço dedicado próximo ao shopping, como será explicada na área 3.
Cobertura modular: 3 materiais, 3 funções
Placas de policarbonato transparente protegem contra a chuva sem barrar a entrada de luz. Nos pontos centrais, brises diminuem a incidência de raios solares, controlando o aquecimento no nível do pedestre.
Estruturas vazadas estão posicionadas nas laterais, sobre os jardim. Elas permitem a passagem das palmeiras existentes, a queda de chuva no jardim e a saída do ar quente, proporcionando o “efeito chaminé”.
Placas solares, posicionadas nos módulos angulados a norte, trazem energia sustentável para iluminação e bastecimento
dos postes de carregamento de celular, próximo aos bancos.
Piso modular hexagonal: hierarquias estabelecidas
A família de mobiliário:
A família de luminárias:
2 – A praça em frente ao shopping
Manejo de águas e controle de enchentes:
A praça também terá importante função no controle de enchentes na região. Como apontado anteriormente, toda a Rua Antônio Agú, bem como a área em frente à estação de trem, sofre com sazonais. O subsolo da praça funcionará como um “piscinão subterrâneo”, com o uso de módulos de drenagem.
A entrada principal do shopping configura um convidativo recuo do calçadão, por isso vamos reforçar seu caráter de praça. Atualmente, o local não possui nenhum tipo de vegetação ou mobiliário urbano, o que o caracteriza como uma área de passagem e não de estar. Para implementar essa nova função, propomos um desenho de praça urbana, com maciço arbóreo, bolsões de ajardinados, bancos, lixeiras e hierarquia de piso.
A cobertura do calçadão entrará parcialmente na praça, principalmente conduzindo os pedestres até a porta de entrada do shopping. Ela oferecerá proteção e auxiliará na integração visual da praça com o restante da rua. Entretanto, por não cobrir toda sua extensão, não abarafá a região.
A paginação do ambiente será regrada pelo mesmo padrão hexagonal, com revezamento de módulos de piso drenante, bancos e jardineiras. Robustas árvores plantadas nas jardineiras trarão conforto térmico ao mesmo tempo que criarão a marca da praça, distinguindo-se das palmeiras do calçadão.
O padrão de piso do calçadão será mantido. Nas áreas de maior circulação será utilizado o piso acinzentado e, nas áreas de estar, o piso bege. Apesar da beleza e resistência do atual mosaico português, ele dificulta a circulação de pessoas com mobilidade reduzida.
Outra desvantagem do desenho atual é a desconexão entre a área e o calçadão. Por isso, o novo desenho pretende fazer essa ligação visual utilizando o mesmo piso e família de mobiliário. Grandes bancos de concreto hexagonais foram propostos, da mesma família que os acentos modulares do restante do projeto. Cada banco entra no local de um módulo do piso, ao lado de um módulo ajardinado.
Os atuais quiosques serão mantidos em suas localizações, reinstalados após a colocada dos módulos de drenagem que tonam a praça uma esponja para os picos de chuva. Eles serão instalados entre as árvores, também auxiliando no conforto térmico para os funcionários destes estabelecimentos.
Desta forma, a nova área abrigará mais funções, trazendo mais atratividade tanto para o shopping quanto para o calçadão, sem comprometer as atividades que já ocorrem no local.
Módulos de drenagem são peças leves e empilháveis, feitas de plástico e com muitas cavidades, como uma esponja. Sendo amplamente utilizada na Europa e já disponível no Brasil, o sistema tem a dupla função de reter excessos de chuva quando o sistema de escoamento está saturado e permitir a infiltração local de água.
Outro importante instrumento no manejo sustentável das águas será a coleta da água da cobertura por cisternas, para ser reutilizada na rega dos jardins. Pela inclinação dos módulos triangulares, a água pluvial é recolhida pelos pilares e direcionada às cisternas. Um sistema de encanamento pressurizado conecta cisternas e jardins e é acionado em períodos de seca.
Um extravasor conecta as cisternas ao sistema de escoamento existente. Desse modo, não só a irrigação é garantida como há um escoamento mais lento na água das chuvas, prevenindo enchentes.
For fim, o piso composto de placas de concreto drenante garante o máximo de infiltração local de água, diminuindo o estresse do sistema de
drenagem.
3 – Laterais do shopping
As laterais do shopping serão destinadas aos ambulantes, utilizando a empena cega e expandindo os conceitos do calçadão para essa localização. Como mencionado anteriormente, os ambulantes hoje alocados ao longo da rua representam uma barreira ao fluxo de pedestres, necessitando um local mais adequado. No novo desenho, estruturas fixas darão lugar às precárias barracas e trarão vida ao que hoje são passagens inseguras e de pouco uso.
O layout será organizado de modo que, próximo às fachadas, barracas de roupas e de comida se alternam e, no centro, árvores e bancos deixam o local mais convidativo e dão suporte aos visitantes. Bebedouros públicos serão instalados nessa localização, contribuindo ao bem estar de comerciantes e usuários. A continuação do piso modular e a instalação de luminárias e bancos da mesma família utilizada na praça em frente ao shopping tornará a área uma extensão da praça, envolvendo o shopping.
4 – Rua Antônio Agú
Propomos a expansão parcial do calçadão ao longo de toda a Rua Antônio Agú, tornando-a um exclusivo corredor de ônibus,
com apenas um leito carroçável. Nos anos 80, no momento de construção do calçadão, optou-se fechá-lo parcialmente por receio
dos comerciantes em perder clientes. Entretanto, o fechamento se confirmou um sucesso em atrair público. Além disso, hoje não
é permitido que automóveis parem ou estacionem na rua, não trazendo benefícios desse fluxo para lojistas que sofrem com ruído
e poluição.
O fluxo de automóveis será redirecionado para as ruas Pedro Fioreti e João Crudo, que terão a direção alterada, como mostrado no mapa abaixo. As ruas que hoje têm acesso à Antônio Agú, como a Rua dos Marianos e a Rua Euclides da Cunha, terão duas direções no quarteirão próximo ao corredor de ônibus, como acontece atualmente nas ruas Antônio Bernardo Coutinho e Floriano Beltrano.
Essa medida trará vários benefícios na escala local e municipal. Sendo um corredor exclusivo para os ônibus, a extinção de conflitos com automóveis melhorará o fluxo, evitando atrasos nas linhas. Na altura dos pontos de ônibus, o leito carroçável será dividido em dois, de modo que os ônibus que não necessitam parar, possam ultrapassar facilmente.
Para os pedestres, o passeio será alargado, acomodando um maior número de visitantes, permitindo a instalação de bancos e o plantio de árvores. Essas medidas trarão mais identidade à rua e atenuarão as ilhas de calor. O estreitamento do leito carroçável também deixará a travessia mais segura.
Sendo a região bem atendida por transporte público, medidas que desincentivem o uso do carro são possíveis e estimulam uma mudança de modal no longo prazo, convidando osasquenses e moradores das regiões adjacentes a visitar o centro de compras em transporte público. Essa medida permitirá a expansão do comércio, abrindo caminho a um total fechamento da rua no futuro, desde a Praça da Estação até a Avenida dos Autonomistas.
Descubra mais sobre Portal Carapicuíba
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.